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Traficantes expulsam moradores do Minha Casa Minha Vida

Imóveis são sublocados ou vendidos para comprar armas e drogas

Editor-Chefe
Por: Editor-Chefe Fonte: CORREIO
04/02/2025 às 09h00
Traficantes expulsam moradores do Minha Casa Minha Vida
Arisson Marinho/CORREIO

No início, um sonho. Mas com a chegada do crime organizado, a casa própria virou um pesadelo para alguns beneficiários do “Minha Casa Minha Vida”, programa do governo federal que atende milhões de famílias baianas. Muitos contemplados já foram expulsos ou já foram ameaçados para abandonarem os imóveis. Isso porque, traficantes não querem a permanência de parentes ou amigos de policiais e as unidades desocupadas são vendidas em sites de compra. Em Salvador, o problema acontece há pelo menos oito anos em cinco conjuntos habitacionais. Já fora da capital, os relatos dão conta de que a situação acontece em Simões Filho, Feira de Santana, Santo Amaro da Purificação e Jequié

“Eles entraram em meu prédio batendo em porta em porta, falando que aqueles que são policiais, que têm parentes policiais ou que tenham amigos policiais civis ou militares deveriam sair. Estavam fortemente armados, com fuzis e pistolas. Era um grupo enorme”, diz um ex-morador do Conjunto Residencial Fazenda Grande II, localizado em frente à Avenida Assis Valente e da Pedra de Xangô.  “O tráfico alugou o meu apartamento para um traficante chamado de ‘Menor’. E não estou trabalhando. Faço ‘bicos’ e pago R$ 540 de aluguel”, complementa a fonte, que hoje não reside mais em Salvador. 

Vazios, os imóveis são sublocados ou vendidos. “Tem muitos anúncios de venda no Facebook e no site OLX, apartamentos por R$10mil, R$ 15 mil, R$ 20 mil, que foram de pessoas expulsas. Esse dinheiro provavelmente deve ser investido na compra de drogas em armas”, diz a fonte.   

A reportagem esteve no Conjunto Residencial Fazenda Grande II, nesta terça-feira (28). A moradia é formada por 27 prédios, cada um com 20 apartamentos. As pessoas ouvidas concordaram falar no anonimato.  Segundo elas, a maioria das unidades hoje é ocupada por pessoas ligadas ao Bonde do Maluco (BDM).  “Estou aqui há dez anos e a cada dia que passa, o problema só aumenta. Logo no início, não havia isso. Mas depois, a coisa foi piorando de uma forma, que sabe da fama, não vem pra cá”, conta uma moradora.  

Os relatos apontam que líderes comunitários, síndicos, administradores nesses conjuntos sofrem ameaça diariamente. “Somos proibidos a ter qualquer tipo de contato com órgãos públicos. Se não tiver autorização prévia do crime organizado, não podemos solicitar um serviço de campinagem, roçagem ou qualquer outra atividade da Prefeitura sem antes comunicá-los. Se tiver algum problema familiar ou desentendimento entre vizinhos, ninguém pode chamar a polícia, caso contrário, a paga com a vida”, conta um morador.  

Mas estas não são as únicas determinações do tráfico. “Os moradores são obrigados a deixar a porta aberta ou então abrir a qualquer hora que for preciso, sempre que tiver uma operação policial no local ou quando eles (traficantes) estão fugindo”, relata outra fonte do local.  

Bromélia 

A expulsão de moradores ocorre também no conjunto do MCMV do Bosque das Bromélias, às margens da rodovia Cia-Aeroporto.  Lá, o silêncio impera no centro do bairro, mas já na saída, longe do campo de visão dos “olheiros”, algumas pessoas detalham a opressão sofrida pela comunidade.  “Inocentes taxadas de ‘x-9’, caguete são ameaçadas com frequência. Minha filha, por exemplo, saiu, foi embora daqui, depois que a pegaram e levaram para a 'boca'. Bateram, mas pouparam a vida dela, porque eu fui lá explicar tudo. Achavam que ela ligava para a polícia, quando, na verdade, falava comigo. A gente se falava quase todos os dias, tarde da noite, porque trabalho no Centro de Salvador”, relatava uma diarista.  

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